Lembro-me bem de sua presença ainda no primeiro Congresso da ALAP, exato momento em que eu, ainda ligada à Antropologia Social, comecei a acompanhar a Profa. Maria Coleta F. A. de Oliveira como parte de sua equipe. Jorge destacava-se por seu comprometimento com os estudos populacionais e com a tradição de uma visão latino-americana dos problemas que afetam nossas sociedades. Para mim, desde aquelas primeiras impressões, ele foi um exemplo da máxima de Fernando Pessoa: “seja inteiro em tudo que fazes”. Seu nível de entrega a tudo que se propunha a fazer era realmente notável.

Anos mais tarde, em 2010, pude reencontrá-lo em Cuba, no quarto Congresso da ALAP. Eu era uma pesquisadora recém-contratada do Núcleo de Estudos de População (NEPO/Unicamp), e havia submetido à ALAP um trabalho sobre a condição dos adolescentes em conflito com a lei no Brasil à luz dos compromissos assumidos a partir da convenção dos direitos da criança, sem muitas esperanças de que fosse aceito. O texto não apenas foi aceito em uma das sessões da rede de População e Direitos – da qual Jorge sempre foi uma das lideranças – como ele próprio comentou o texto. Conversamos detidamente após a sessão e ele incorporou o trabalho como capítulo de uma coletânea que estava organizando. Quando precisei de referências e materiais para as primeiras disciplinas que ministrei na Unicamp, ele foi uma das pessoas que prontamente me enviou referências, dicas, materiais e ajudou a descortinar o mundo da Demografia hispânica para uma simpatizante brasileira.

Jorge era assim, transitava entre diferentes gerações ajudando a mantê-las unidas. Era acessível aos mais jovens, disposto a debater independentemente de sermos iniciantes ou sêniores, generoso, comunicativo, perspicaz e muito inteiro em tudo que fazia. Minha última memória de um encontro presencial com ele foi durante a ALAP 2022 que organizamos em Valparaíso (UV). Jorge sempre foi um entusiasta da criação de uma associação chilena de estudos populacionais e me alegro que a ALAP tenha sido realizada no Chile enquanto ele ainda estava entre nós.

Em tempos em que o cenário da migração internacional exige mais do que nunca que a Demografia reitere o seu compromisso com os direitos humanos, Jorge fará muita falta. Ele seguirá nos inspirando e lembrando que a Demografia, para além do rigor técnico, também deve estar comprometida com a justiça social e a igualdade entre as pessoas.

Até sempre, Jorge. Vá em paz rumo à luz. Obrigada. ¡Gracias por todo!

Foto de reunião realizada no Hotel Glória em Caxambu (MG) em 2004. Da esquerda para a direita: Brígida Garcia (México), Jorge Martínez Pizarro (Chile), George Martine (Brasil), José Miguel Guzmán (República Dominicana) e Alejandro Canales (México e Chile). As duas outras pessoas das quais não vê o rosto provavelmente eram Carlos Javier Echarri (México) e Rosario Cárdenas (México)